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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Artigo

Buááá! A Ciência Por Trás do Choro

                                                                 Estevão Bittar - Uberlândia/MG
De repente seu queixo começa a tremer, os cantos da sua boca vão se arqueando para baixo, seus olhos começam a se fechar e as lágrimas (escandalosamente) começam a jorrar. Não precisa se envergonhar. Todos nós – homens (!) e mulheres – já passamos por isso. As mulheres mais do que os homens, naturalmente. Segundo estudo da Universidade de Minnesota, as moças choram 5 vezes ao mês. Os rapazes, apenas uma. E às escondidas, claro.
Por ser tão comum, psicólogos, biólogos, neurocientistas e outros pensadores aleatórios têm buscado, há séculos, compreender esse curioso fenômeno. Através de pesquisas recentes, eles parecem estar descobrindo algumas coisas interessantes.
A primeira delas é que, ao contrário do que você pensava, só os seres humanos são capazes de chorar. Cães, gatos, hamsters, furões e outros itens de pet shop apenas uivam, gemem e grunhem (essa palavra existe, eu chequei). Até mesmo os chimpanzés, nossos aclamados primos, nunca derramaram uma única lágrima.
A segunda coisa que os cientistas descobriram (e que as mães deles já sabiam há muito tempo) é que, até os 6 meses de idade, o choro humano não vem com lágrimas incluídas. É que a circuitaria neural necessária ainda não está pronta. Mesmo assim, o pranto é a principal forma de comunicação dos bebês. Só começa a reduzir em freqüência quando chegam a mais ou menos um ano de idade, quando as palavras começam a parecer uma alternativa viável.
Os mistérios por trás da careta de choro também estão sendo revelados. Os principais músculos responsáveis por ela são o músculo mentual (que faz tremer o nosso queixo) e o músculo abaixador do ângulo da boca (que faz exatamente o que seu nome diz).
Em sua ânsia por respostas, os cientistas fizeram suas cobaias humanas chorarem, apenas para coletar lágrimas que pudessem ser dissecadas em seus laboratórios. E chegaram a dados supreendentes. Quando comparadas às lágrimas reflexas (eliciadas por um cisco que cai no olho), as lágrimas emocionais são:
  • 20 a 25% mais ricas em proteínas;
  • Quatro vezes mais ricas em potássio;
  • Trinta vezes mais ricas em manganês;
  • Carregadas com os hormônios ACTH e prolactina;
  • Cheias de encefalina.
Essas coisas fazem sentido. O manganês costuma ocorrer em altas concentrações no cérebro de pessoas em depressão crônica. O ACTH é um hormônio associado ao estresse. A encefalina é um analgésico natural, semelhante à morfina. E a prolactina (um hormônio feminino) pode explicar porque as mulheres choram mais do que os homens, principalmente após a puberdade.
Tanta tabela periódica em uma única gotinha de lágrima levou o bioquímico William H. Frey a dizer que o choro realiza uma espécie de faxina emocional, jogando para fora do corpo um coquetel de substâncias que nos tornam mais tristes e estressados. É a ciência confirmando o que a vovó já dizia: pode chorar, meu filho... Chorar faz bem!
Mas para que serve tudo isso?
Mas, afinal, qual é a função de todo esse espetáculo? A Natureza, como se sabe, não dá ponto sem nó. Assim, o choro deve existir por alguma razão. A faxina emocional sobre a qual Frey especulou pode até ser parte da história, mas será que esse é o objetivo principal de tanto pranto?
Psicólogos evolutivos e biólogos acreditam que não. Ao que parece, o choro se tornou tão difundido em nossa espécie por se tratar de uma maneira muito eficaz de comunicar dor e estresse. E a eficácia desse sinal se deve a um fato básico sobre o choro: ele é muito difícil de falsificar. Em um ambiente social tão complexo como o nosso, estamos sob constante risco de manipulação. Passamos, então, a exigir algum tipo de chancela fisiológica.
O psicólogo Randolph Cornelius demonstrou essa teoria experimentalmente. Ele reuniu várias fotos de pessoas que estavam verdadeiramente chorando. Depois, retirou as lágrimas de algumas dessas imagens no Photoshop. Ao submeter seus slides à avaliação de um grupo de pessoas, percebeu que as fotos modificadas geravam confusão e desconfiança. Sem o choro, duvidamos da dor do outro. As lágrimas são a marca d’água do sofrimento.
-Estevão Bittar  - Psicólogo, escritor e palestrante. Produz e apresenta o programa de TV Pensando Bem, e é autor do livro "Não Sou Feliz... E Agora?", pela Editora Imagine. Vereador em Uberlândia/MG.

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