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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pesquisa Acadêmica em torno do Espiritismo

Perfil da pesquisa acadêmica brasileira com temática espírita


                                                                 Ismael Gobbo
                                                               igobi@uol.com.br

Milani Filho: “Praticamente não há dissertações sobre os fenômenos mediúnicos”
Saber como anda a produção acadêmica nas universidades versando sobre temática espírita era o objetivo da Folha Espírita, quando procurou o professor Marco Antonio Figueiredo Milani Filho para uma entrevista.

Economista pela Universidade Mackenzie, mestre e doutorando em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, foi pesquisador visitante da Carleton University (Ottawa/Canadá) e coordenador do Núcleo de Estudos do Terceiro Setor - NETS/UPM.

Professor do CCSA/Mackenzie nos cursos de Economia, Administração e Contabilidade (graduação e pós-graduação), o também diretor da USE Distrital Lapa, na capital paulista, é pesquisador do Núcleo de Estudos do Terceiro Setor da mesma instituição e tem como linhas de pesquisa a gestão e análise de desempenho de organizações filantrópicas.
Folha Espírita - Como a temática espírita vem sendo trabalhada nas universidades?
Milani
 - Ainda incipiente, a produção acadêmica com temática espírita é mais frequente nos programas de Ciências da Religião, História, Educação e Antropologia. Praticamente, não há dissertações ou teses sobre os fenômenos mediúnicos sob a perspectiva das ciências naturais. Um dos motivos é a carência de referencial teórico científico e de instrumentos adequados para os estudos. Há iniciativas meritórias, como as investigações de Sérgio Felipe de Oliveira na área da Saúde, ou de Dora Incontri na área da Educação, mas pode-se afirmar que a temática espírita não se destaca na comunidade científica brasileira.

FE - O Espiritismo faz parte do currículo acadêmico? Em que escolas?
Milani
 - Geralmente não, mas há exceções. Nos cursos de pós-graduação Lato Sensu é possível encontrar programas com temática espírita ou que contenham disciplinas sobre o Espiritismo, como, por exemplo, os já citados da Dora Incontri, na Unisanta, em Santos (SP), e o de Sérgio Felipe de Oliveira, na USP. Nos cursos de pós-graduação Stricto Sensu destacam-se os programas de Ciências da Religião e Teologia de diferentes instituições, como a PUC e a Universidade Católica de Goiás. Ao contrário do que muitos poderiam supor, a Unibem/Faculdades Integradas Espírita, mantida pelo Instituto de Cultura Espírita do Paraná, não possui cursos regulares sobre o Espiritismo, tanto na graduação como na pós-graduação.

FE - Como andam as teses e dissertações com temas espíritas?
Milani
 - No levantamento que fiz recentemente na base de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foram identificados 51 trabalhos (40 dissertações e 11 teses) com temática espírita, entre 1989 e 2006. A maior parte dessa produção concentra-se nos Estados de São Paulo (48%), Minas Gerais (18%) e Rio de Janeiro (14%). As instituições de ensino com maior participação foram: USP (20%), PUC-SP (12%), Unesp (8%) e Universidade Federal de Uberlândia (8%).

FE - Quais os focos e as fontes desses trabalhos?
Milani
 - Os trabalhos estavam vinculados, principalmente, aos programas de Ciências da Religião (16%), História (14%), Educação (12%) e Antropologia (10%). As categorias mais frequentes foram ações sociais (16%), obras psicografadas (16%) e princípios doutrinários (16%).

FE - Isso ocorre só em universidades brasileiras?
Milani
 - Esse levantamento que fiz foi sobre a produção nacional nos programas de pós-graduação Stricto Sensu. No exterior, há várias pesquisas que poderiam ser exploradas sob a ótica espírita. Muitas dessas são de autoria de brasileiros, como a de Maria E. Lima Bezerra, que preparou, em 2002, uma tese sobre o Espiritismo para o seu doutorado em Antropologia na Universidade da Flórida/EUA. Não tenho dados estatísticos sobre a produção internacional, mas, considerando que o Espiritismo no exterior é mais difundido em países latinos, suponho que a produção existente acompanhará essa concentração. Claro que os fenômenos naturais promovidos pela constante relação entre os encarnados e os desencarnados, além das manifestações incessantes do espírito, não dependem do referencial teórico espírita para serem estudados. Mas, sem esse referencial, a interpretação e análise dos fenômenos será limitada. Se há pesquisas no exterior sobre algum objeto relacionado à manifestação espiritual ou à existência do chamado “mundo invisível”, tais pesquisas servem-se do referencial conhecido ou disponível do investigador.

FE - Você acha que o interesse da mídia divulgando o Espiritismo tende a aumentar a produção de trabalhos acadêmicos?
Milani
 - Sim, tanto para aqueles movidos pelo desejo sincero de conhecer quanto para aqueles que tentam refutar a existência de qualquer manifestação espiritual. Ambos são relevantes para o progresso da ciência e para o fortalecimento da própria Doutrina.

FE - O Espiritismo ganhou definitivamente as universidades?
Milani
 - Kardec, que é a referência do Espiritismo, dificilmente é citado nos trabalhos acadêmicos. Logo, a resposta para essa questão é negativa. Há um longo caminho a se percorrer, mas já há grupos muito sérios dedicados a isso, como a Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas, que está se organizando para oferecer projetos e referencial científico para o estímulo de novas pesquisas.
Maio de 2009 - Edição número 417

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